Os meus alunos andam a perder os dentes. Sinal de crescimento e de novas descobertas. Maxilares maiores, cérebro maior.
Lembro do momento mágico, que vivi com a minha filha mais nova, nessa altura.
A fadinha dos dentes era infalível.
Trocas perfeitas entre caninos e moedas, entre molares e livros, entre incisivos e brinquedos.
Uma maravilha!
A certa altura, e já a explodir de curiosidade e de excitação, ela pôs-me entre a espada e a parede, e ultimou-me:
_ Mamã, diz a verdade, diz, por favor, diz! Tu é que és a fadinha dos dentes?! Não és!?
Pronto! Estava tudo acabado – pensava eu -. A magia tinha terminado, as asas tinham caído e o frasco do perlimpimpim chegara ao fim.
Desarmada, entreguei armas e ilusões.
_ Sim. Sou eu.
Mas, num ‘volt-fast’ surpreendente e digno do top das fadas, os olhos da minha menina abriram-se ainda mais.
Mil estrelas luziram, na sua infância feliz, e gritou de espanto e felicidade:
_Mamã!!!!!!!!!! Como consegues ir a casa de todos os meninos!!!
Nada tinha terminado, pelo contrário.
A magia da infância tinha rejuvenescido, tal Fénix renascida.
Li pela primeira vez, 'O diário de Anne FranK', com 12 anos.
Para mim, Anne era uma menina, com sonhos, segredos, projectos, ansiedades e angustias, como todas as meninas de 12 anos .
Esperava encontrar uma menina heroína: Mas ela era 'apenas' uma menina como eu. Por isso o seu testemunho era muito mais forte e intenso para mim. Por isso eu ria com as suas patetices e chorava com os seus dramas.
Foi com ela que relembrei a estupidez da guerra e a relatividade dos 'não' problemas.
Neste dia, Internacional da Memória do Holocausto, o meu post vai para a Anne e para todos, que ainda hoje, são vítimas de todos os tipos de tortura.
' Basta de brincadeira, deixa-me falar a sério. Não parecerá inconcebível ao Mundo, depois da guerra - digamos dez anos depois -, o que nós, os judeus, contarmos sobre a nossa vida aqui, as nossas conversas e as nossas refeições? Pois embora te tenha contado muita coisa, tu ainda só ficaste a saber uma pequena parcela desta vida.
O medo das senhoras, quando há bombardeamentos como os do Domingo passado, em que trezentos e cinquenta aviões ingleses lançaram meio milhão de quilos de dinamite sobre Ijmuiden e as casas estremeceram como as folhas com o vento.
E o terror das epidemias que grassam no país! Disto ainda sabes pouco, e seria preciso que eu escrevesse todo o dia se quisesse fazer um relatório completo. A população forma bichas para comprar hortaliça ou seja o que for. Os médicos não podem visitar os seus doentes, porque lhes roubaram o automóvel ou a bicicleta. Ouve-se falar de pequenos furtos e de roubos em grande escala, e eu pergunto a cada passo o que foi feito da honestidade dos holandeses, quase proverbial?
Crianças dos oito aos onze anos partem os vidros das habitações alheias e tiram tudo o que lhes vem parar às mãos. Ninguém tem coragem de deixar ficar a sua casa abandonada durante cinco minutos, pois, ao voltar, pode muito bem encontrá-la vazia. Todos os dias se leem nos jornais anúncios em que se prometem gratificações pela entrega de coisas roubadas, máquinas de escrever, tapetes persas, relógios eléctricos, tecidos, etc., etc. Os relógios das ruas são desmontados, e até se tiram os telefones das cabinas sem deixar ficar um pedaço de fio sequer.'
(...)
'Estas perguntas são legítimas, mas até agora ninguém soube encontrar-lhes uma resposta satisfatória. Porque é que na Inglaterra se constroem aviões cada vez maiores, bombas cada vez mais pesadas e, ao mesmo tempo, se reconstroem filas de casas? Porque é que se gastam todos os dias milhões para a guerra, se não há dinheiro para a medicina, os artistas e os pobres? Porque é que há homens a passar fome se, em outros continentes, apodrecem víveres? Porque é que os homens são tão insensatos?'
(...)
'Se Deus me deixar viver, hei-de ir mais longe do que a mãe. Não quero ficar insignificante. Quero conquistar o meu lugar no Mundo e trabalhar para a Humanidade.
O que sei é que a Coragem e a Alegria são os factores mais importantes na vida!'
Anne Frank
Gosto de fotografia.
Gosto de fotografar.
Prender instantes, guardar memórias, cores, lugares e histórias.
Reviver.
Em certas fotos, ainda sinto os cheiros, a música, a pele.
Mas, e se eu deixar de fotografar as minhas viagens, as minhas experiências e emoções, elas deixam de existir!?
Eu, deixo de existir?
Não! Claro que não!
Mas dá a sensação que sim.
Tamanha é a actual importância do documento visual, tudo vira público.
A facilidade e a trivialidade da partilha desses pequenos ápices, tomaram, por vezes, dimensões imprudentes e ostensivas....
Felizmente, não tem de ser necessariamente assim.
Há momentos tão intensos, mas decerto tão reais, que permanecerão intactos e para sempre na nossa memória.
E apenas nela!
'Cada um de nós compõe a sua história.
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz....
E ser feliz'
Hoje sonhei com a minha prima T.
Um dia, chegou orgulhosa dos seus 18 anos e disse-me com ar de quem já sabe muito: '_Acabaram- se os livros dos Cinco!’ _ ‘Temos de começar a ler os clássicos’.
Pôs me nas mãos o calhamaço ‘BenHur’, depois, tal como na expansão do império romano, a incursão aumentou. Vieram ‘Robinson Crusoé’,
‘A volta ao mundo em oitenta dias’, ‘Viagens na minha terra’, ‘Esteiros’, ‘D.Quixote’ e tantos outros que me alargaram os braços e a imensidão do mar e das palavras.…
Admirava-a em segredo e imaginava as recônditas histórias que ouvia a seu respeito. As crianças que crescem sem irmãos apuram o seu sentido de observação e veem coisas transparentes, que ninguém consegue perceber. Crescem atentas. Serão atentas toda a vida.
As tias falavam das perniciosas festas da gravata. Era o ano de 75 e o movimento hippie acalorava jovens portugueses acabados de sair de uma ditadura. Eu gostava de a ir buscar ao ISPA, ainda no Chiado. Apresentava-me aos amigos ‘grandes’ como se eu fosse ‘grande’ .E eu gostava. Tinha permissão para entrar no seu quarto, quando todos cantavam ‘Mamy Blue’. Ficávamos ali, em roda, pernas à chinês. Ricky Shayne e nós. Vozes arrastadas e as violas em uníssono. Levava-me à Gulbenkian em noites de inverno e injetava me com bailados russos e pas- de -deux acabados de chegar, pela mão do jovem Salavisa. O Lago dos Cisnes,La Sylphide, Coppélia, Raymonda, Festival das Flores e Romeu e Julieta,…
Oito anos nos separavam, ou talvez nos unissem. Eu era o barro, ela o oleiro, jovem e idealista. Lembro-me dela. Tanto! Como marcou essa minha serena e atenta infância! Como a salpicou com borrifos de lucidez e de tolerância. Como me ensinou a imensurabilidade do mundo lá fora e o prazer do ignoto.
Partiu antes da hora. Se é que há horas certas para partir.
Nunca pude crescer ao ponto de lhe dizer, como foi importante para mim.
Explicação da Eternidade devagar,
o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
Concordo.
Ela tem aquela vozinha snob e um aparelho ortodôntico que não lhe favorece a dicção, lhe prolonga as sílabas e sei lá, a …tipo…a futilidade.
Concordo.
Pode ser mimada e superficial. Pode parecer tonta e vazia. Pode ser queque e inconsciente.
Mas chega de tanta hipocrisia!!!
Queriam o quê !?
Aqueles velhos e falsos discursos, das candidatas a Miss Universo, que tinham como sonho e máxima, o fim da fome em África, o desaparecimento do buraco de ozono e uma série de finais felizes arrancados das suas recentes histórias da Cinderela, com ‘… e foram felizes para sempre’.
Queriam o quê!?
Vivemos num mundo dominado pelo dinheiro, pelo consumismo, pela aparência. Abro a televisão e inundam-me com famas shows, mundos VIPs, casas de segredos, Lux, Caras e histórias de famosos.
Queriam o quê!?
Chamá-la à televisão e cruxificá-la com falsas morais é que me escandaliza!!!
Maria José Ruela ,qual a marca da sua mala?
Onde está o seu profissionalismo jornalístico quando fez aquelas perguntas?
Se não fizesse perguntas idiotas o que gostaria de perguntar?
Está arrependida de fazer parte deste vale tudo, menos arrancar olhos!?
Tenham paciência!!
Não é a minha prioridade, nem vou concretizar este desejo…mas eu queria uma Louis Vuitton ( verdadeira), igual a essa aqui debaixo :
Qual é o problema ?!
Não há pachorra para tanta hipocrisia!!
Há dias reais, em que chego a casa ainda viva.
Saio tarde da escola, com trabalhos pendentes e sacos cheios de projetos inacabados, que vão acabar por pernoitar no porta bagagens.
Faço compras pouco pensadas, visualizando listas que ficaram esquecidas entre livros de poemas.
Corro para casa dos P., atrás de adormecidos carros de condução.
Conduzo o leme primordial, mergulho nos laços das relações mais complexas da raça humana e queimo neurónios impotentes.
Puxo a vida, estico o tempo, agito memórias e humores. Mas serei sempre muito mais cuidada que cuidadora. Jogo dominó chinês e bocejo.
Recordo a cartolina que esqueci de comprar….e o papel autocolante…e o bostiK.
Penso no jantar, ainda hibernado no congelador de casa e recebo surpresa de P. com refeição já preparada, quase servida e dou graças.
Corro para o multibando. Apanho chuva. Levanto dinheiro para pagar à S…e ao Z.C….e à M.
Recolho filhas de escolas esquizofrénicas, levo-as aos apoios e explicações.
Regresso a casa com um turbilhão de histórias frenéticas de adolescentes eufóricas, que contam, em stereo, novidades mirabolantes de stores loucos e de Fannys ,de Marcos ,de Alexandras , que lhe poluem o cérebro e o sentido da realidade.
Chego tarde a casa.
Uma entre a multidão.
Sonho com os dias perfeitos. Tão raros e exímios.
Há dias perfeitos, em que chego cedo a casa e respiro.
Refaço camas frias, arrumo ténis soltos pela sala, ressuscito toalhas mortas, do chão da casa de banho, alimento tachos no fogão, desperto CDs esquecidos, abraço o gato , ronrono, abro e fecho gavetas e pensamentos.
Há dias perfeitos, em que chego cedo a casa e sorrio.
As orquídeas tiveram bebés e nascem as primeiras flores do ano.
Jardino, mudo vasos e terras.
Transplanto amores perfeitos, que teimam em viver no parapeito das minhas janelas e espero que todos cheguem a casa, para os abraçar.
cinzento
adj.
Da cor da cinza.
cinza
s. f.
1. Resíduos de um corpo queimado.
2. [Figurado] Restos mortais.
3. Memória dos finados. (Mais usado no plural.)
4. Luto; mortificação; dor.
Cause they say home is where your heart is set in stone!!
De regresso...
...Voltar a casa. Começar um novo ano.
Regressar e recomeçar são verbos que me redefinem.
Mas viajar,está gravado no meu ADN. Eu quero ir. Sempre. Não importa para onde. Sou viciada em andar na estrada. Sair de casa, ser estrangeira aos olhos dos outros, mas também reaprender a conviver com a imprevisibilidade da minha estranheza.
Fugir de mundos perfeitos e ser feliz com a minha fragilidade. Ser feliz por nada. Pisar fronteiras, mentais e geográficas.
Inquietude no olhar.
Sede em chegar...
Regressar por fim.
Olhos saciados de céu.
Continuar….
. Rodopiar
. Passemos para a outra mar...
. Espera
. Obrigada
. Dia
. Luz
. Outono
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. Livrem me de comédias rom...
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. Maio
. Schumann
. PINK
. Gosto de zantedeschias ae...
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