Que o milagre deste natal ,seja o milagre das PESSOAS.
O verdadeiro milagre, ainda é, o que as pessoas conseguem fazer por si e pelos outros.
Acredito que os humanos ainda conseguirão a transformação, através da alquimia do amor.
Que seja natal, então!
Todas as noites são bocadinhos do fim.
Fim do dia.
Fim de planos.
Fim de sonhos.
Fim de sóis.
Em todos os dias, há fins do mundo.
Há fins do mundo em todas as despedidas.
Ampulhetas que se esgotam por entre os dedos. Naufrágios sem salvação. Desertos sem oásis à vista. Céus rasgados de dor e de raiva. Vozes embargadas de vazios na escuridão. Buracos negros de saudade e desespero. Espadas apocalípticas que desventram peitos e coxas.
Todos os dias, há mil fins do mundo, em mim.
Há bolinhas por todo o lado...menos na árvore.
O alinhamento de bolinhas não vai acontecer, pelo menos cá em casa.
Simão chega às meias finais.
Nós, resistentes, sobreviventes,continuamos com o espírito da época a correr em sentidos opostos.
Lembro-me das luzes a piscar na árvore, do som esperado das chaves na porta, das novidades que trazia da rua, do entardecer. O pai chegava e trazia sempre um mimo. Naquela tarde desembrulhei à pressa o pacotinho calculável em forma de livro. Desfolhei devagar. Olhos ingénuos de quem já dera onze voltas ao sol.
‘Um conto de natal’, Charles Dickens! O olhar aterrador de Scrooge insinuava alguma familiaridade com as personagens avarentas, que conhecia das aulas de catequese da irmã Carmo.
De um lado, Cristo, e a sua partilha límpida e imensurável. Do outro lado, aqueles que nunca entrariam no reino dos céus, devido à arrogância de suas palavras e suas acções. Naquele tempo, para mim, havia os bons e os maus. Só muito mais tarde descobri que somos feitos desses dois ingredientes e que é a porção certa de cada um, em cada circunstância, que nos caracteriza.
Uma coisa era certa. Era natal. Pedi à mãe e fui à velha livraria Portugal. Tinha de comprar um livro ao pai. Se Scrooge era o protótipo de uma avareza sórdida, eu tinha de encontrar um pensamento de partilha e igualdade. Ora, nesse ano de setenta e coisa e tal, a palavra comunismo fascinava-me. Para mim Cristo era ‘pai’ dessa doutrina de fraternidade e comunhão. Para mim, ainda existia a fronteira entre os bons e os maus….mas já contei isso.
Comprei ‘O capital’ ( vários volumes que me levaram poupanças e tostões). Na contra capa podia ler :’econiza a comunidade de bens e a supressão da propriedade privada’ . Aquilo soava-me a cristianismo. Esta troca de presentes faz parte do meu imaginário de natal. O pai continuou a devorar livros e jornais. Não sei se chegou a ler este meu presente marxista. Mas para mim, Jesus e Marx eram muito semelhantes.
Dizem que a noite é boa conselheira...
Dizem que filho de peixe sabe nadar, que quem sai aos seus não degenera, que filho és pai serás, que filhos criados trabalhos dobrados e que quem tem filhos tem cadilhos.
Dizem também que não vale a pena chorar sobre o leite derramado, que a decepção é filha da expectativa, que em casa de ferreiro espeto de pau e que para a frente é que se anda.
Eu cá não gosto de ditados populares. Esta enfermidade de vivermos conforme aquilo que os outros pensam. Repugno falsas morais, débeis disfarces, com rabos de fora, pés de barro e telhados de vidro.
Eu sei que a galinha da vizinha será sempre melhor que a minha, que quando Deus fecha uma porta, abre sempre uma janela e que também Deus, escreve direito por linhas tortas. Será? Não sei! Só sei que quando acordarem vou mima-las e ama-las incondicionalmente.
Quem muito fala (ou escreve) pouco acerta… pois.
Bem,..... o silêncio será então de ouro.
Gosto de clareiras.
Gosto de florestas também…densas e húmidas. Sons quebrantes, folhas secas, raios tímidos de sol, fungos e animais receosos. Fazer parte, exalar, sentir unidade com a ‘mãe’.
Mas gosto de saber que existe uma clareira, algures. Lá, onde posso aquecer à soalheira do sol e olhar o céu azul índigo. Um círculo perfeito em cima da minha cabeça, a unidade com o ‘pai’.
Gosto desta dualidade divina.
Gosto de florestas….mas gosto t-a-n-t-o de clareiras!
....Não façam burulho!! - pediam baixinho, como se esperassem sons mágicos, vindo dos bosques secretos que só conhecem nos livros.
- Não façam barulho.......
Lá fora bateladas sinfónicas martelavam nos telhados de chapa.
O céu ia desabar nas suas cabeças de sonhos possíveis. Mas nada roubava os seus sorrisos de encantamento.
- Não façam barulho! Vamos ficar caladinhos a ouvir a chuva.
É tão linda !!
Um Dia de Chuva
Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Em êxtase com as minhas árvores de outono! -
No lugar da árvore
No lugar da árvore. No lugar do ouvido.
No lugar do chão. Unidade crepitante
no silêncio aberto no Trânsito. Tronco, calma
bomba indeflagrável, dádiva da identidade.
António Ramos Rosa
Está aberta a época natalícia.
Por mera coincidência começou também o CFGB: Campeonato Futebol de Gatos e Bolinhas.
O alvoroço é uma constante e a nossa paciência é posta à prova.
Haja benevolência, bom humor, paz e amor , muita pachorra e todos aqueles predicados maravilhosos que alguns só desembrulham em dezembro.
Mas ,o Simão está a leste deste espírito mascarado, que encobre alguns humanos , durante este mês.
Para ele há festa, há árvore na sala, há escaladas, há desmoronamentos, há bolinhas….há o CFGB !
' Quando se tem o prazer de ser …..tentar ser…
uma pessoa honesta… verdadeira…,
não se pode ter o prazer de ser feliz.....!
Não se pode ter tantos prazeres ao mesmo tempo.'
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