SEMLINHASCRUZADAS
"As pedras falam? pois falam...
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.&
....o meu fascínio pelo teatro vem da minha atracção pelo palco.
Deve ser uma história antiga, temerária e aparatosa. De um passado remoto...que não me lembro.
Sinto esse frenesi nos poros, deixou marcas no meu mais íntimo prazer.
Eu e o palco, velhos amantes....
Neste presente surreal em que vivo resta-me a plateia....as luzes, o encantamento do espaço, os silêncios, a cumplicidade, o riso, o amargo na boca, o brilho dos olhos, as palmas.....
O lado oposto.
Mas o mesmo deleite,a mesma comunhão, a mesma festa.
VIVA O TEATRO!
Esta mensagem foi hoje lida em todos os palcos:
Mensagem do Dia Mundial do Teatro de 2010 por Dame Judi Dench
"O Dia Mundial do Teatro é uma oportunidade de celebrar o Teatro em todas as suas miríades formas. Fonte de entretenimento e inspiração, o Teatro contém em si a capacidade de unificar os inúmeros povos e culturas que existem no mundo. Mas o Teatro é mais do que isso e também proporciona oportunidades de educar e informar. O Teatro é representado no mundo inteiro e nem sempre no cenário de teatro tradicional. Os espectáculos podem ocorrer numa pequena aldeia em África, no sopé de uma montanha da Arménia, numa pequena ilha do Pacífico. Só precisa de um espaço e de um público. O Teatro tem a capacidade de nos fazer rir, de nos fazer chorar mas deve, também, fazer-nos pensar e reflectir. O Teatro acontece pelo trabalho em equipa. Os actores são as pessoas que se vêm, mas existe um conjunto espantoso de pessoas que não são vistas. São tão importantes como os actores, e os seus conhecimentos especializados, diferenciados, tornam possível que a produção aconteça. Eles também devem partilhar qualquer triunfo ou sucesso que se espera que venha a acontecer. O dia 27 de Março é sempre a data oficial do Dia Mundial do Teatro. Em muitos sentidos cada dia deveria ser considerado um dia do teatro, uma vez que temos a responsabilidade de continuar esta tradição de entretenimento, de educação e de elucidar o nosso público, sem o qual não poderíamos existir."
Imagino todo o mistério que eles vêem quando olham para mim e carrego aquilo que eles não sabem, que é melhor que não saibam. E, muitas vezes, quando lhes conto alguma história minha, explico-lhes que aconteceu antes de terem nascido. Eles olham-me desde a sua idade e não estranham que existisse mundo antes de terem nascido. Já eu, que tenho esta idade, estranho quase tudo.
Sou eu que os junto, é essa a minha tarefa. O mais velho defende o mais pequeno. Perde de propósito em jogos de playstation. O mais pequeno tem uma cegueira imensa pelo mais velho. Nada do que ele faça pode estar errado. Eu sou a testemunha disto. Sou o pai. Respondo às perguntas que me fazem, dou autorização para irem lá ao fundo. O pai deixa, diz um deles.
Sou também eu que os separo. Depois de dois dias inteiros juntos, a dormirem na mesma cama, a acordarem ao mesmo tempo, sou eu que guardo a roupa suja na mochila do Benfica. Sou eu que carrego os presentes no carro. Depois de filmes no cinema em que eles decoram cada pormenor, depois do pequeno se divertir a lutar contra a minha sombra, depois de comermos crepes com chantilly, depois de eu reparar que o mais velho está quase da minha altura, chega a hora, fim da tarde de domingo, e peço-lhes para darem um abraço. Eu sou o pai a olhá-los, mas, por dentro, em segredo, sou também um menino de cinco ou doze anos que gostava de ser irmão deles.
Seria fácil compará-lo a outros filmes que podemos localizar nele: um tanto de Cenas de um Casamento, outro tanto de Uma Mulher sob Influência.
É um filme sobre como uma relação se vai fragilizando, num período especifico, e sobretudo como este processo é escrito naqueles dois corpos – e só por isto já seria um filme notável.
É a história de Gitti e Chris. Um jovem casal de férias que se vê obrigado a lidar com os problemas da sua relação. É um retrato fiel da intimidade entre duas pessoas: os rituais secretos, os momentos aparvalhados e os sonhos que ficaram por realizar.
A melhor música sempre evocou viagens: interiores, geográficas ou simplesmente emocionais, mas sempre com uma ideia de movimento associada, de transporte de sentimentos e imagens.
tudo no teu sorriso diz
que só te falta um pretexto
para seres feliz
uma querela talvez chegasse
ou um pequeno pastor que passasse
na estrada, com suas ovelhas
um riso, um pormenor
que no momento se pousasse
e o tornasse melhor
eu
vou pensando em coisas velhas
- sem sombra de desdém! -
na vida
naquele lampejo fugace
que o teu sorriso já não tem
e que é do passado
porque a nossa grande sabedoria
não soube tratar ente tão delicado
e declina, o dia
o pequeno pastor já não vem
(Mário Cesariny, manual de prestidigitação, Assírio & Alvim)
.AS FADAS As fadas...eu creio nelas! Umas são moças e belas, Umas vivem nos rochedos, Outras, à beira do mar...
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
.Ser poeta é ser mais alto...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
.RAÍZES
Quem me dera ter raízes,
que me prendessem ao chão.
Que não me deixassem dar
um passo que fosse em vão.
Que me deixassem crescer
silencioso e erecto,
como um pinheiro de riga,
uma faia ou um abeto.
Quem me dera ter raízes,
raízes em vez de pés.
Como o lódão, o aloendro,
o ácer e o aloés.
Sentir a copa vergar,
quando passasse um tufão.
E ficar bem agarrado,
pelas raízes, ao chão.
(in Herbário)
jORGE sOUSA bRAGA