« com a morte fica-se muito zangado como pessoa. não se criem dúvidas acerca disso. fica-se zangado e deseja-se aos outros pouco bem, e o mal que lhes pode acontecer é-nos indiferente ou, mais sinceramente, até nos reconforta, isso sim, como um abraço de embalo, para que não se ponham por aí a arder como o sol e, sobretudo, não nos falem com uma alegriazinha ingénua, de tempo contado, e nos façam perceber o quanto éramos também ingénuos e nunca nos preparáramos para a derrocada de todas as coisas. nunca nos preparamos para a realidade. passamos a ser cidadãos terrivelmente antipáticos, mesmo que façamos uma gestão inteligente desse desprezo que alimentamos crescendo. e só não nos tornamos perigosos porque envelhecer é tornarmo-nos vulneráveis e nada valentes, pelo que enlouquecemos um bocado e somos só como feras muito grandes sem ossos, metidas dentro de sacos de pele imprestáveis que já não servem para nos impor verticalidade nem nas mais pequenas batalhas.»
[O novo romance de valter hugo mãe editado pela chancela Alfaguara, da editora Objectiva)
'A máquina de fazer espanhóis' homenageia o pai, que morreu há dez anos, tem maiúsculas e está à venda a 10 de Fevereiro.
A SERENATA
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
— só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Adélia Prado
Fotografia das gémeas artistas britânicas Jane e Louise Wilson, a ver no Centro de Arte Moderna, na Gulbenkian, até 18 de Abril.
“Cinzas e Sangue” é o primeiro filme da actriz Fanny Ardant, enquanto realizadora, num registo negro e sombrio, no seio de um drama familiar, marcado por um fatalismo inexorável, com a produção de Paulo Branco, que marcou presença no Festival de Cannes.
Judith (Ronit Elkabetz), vive no exilio com os seus três filhos, depois da morte trágica do seu marido. O regresso à terra natal ocorre dez anos depois, por ocasião da celebração do casamento de uma prima. Envolta em secretismo, é a vida de Judith e seu regresso, que marcam a história deste filme.
A ver, no KING.
"Não tem saudade nem mágoa, meu amor fala outra língua",
canta Maria Bethânia no álbum Tua(2009).‘ Ver mais aqui: Tua
...e livrai-nos do mal (Manuel Halpern)
Michael Haneke fez o mais dreyeriano dos seus filmes, na Alemanha soturna, protestante e a preto-e-branco, dos anos 10, só que o Dreyer de Haneke, não é um Dreyer puro: todos morrem, ninguém ressuscita. O Laço Branco talvez seja o ponto em que Haneke se cruza não só com Dreyer, mas também com Lars Von Trier, porque há uma demência latente e perturbadora, comum de resto a toda a cinematografia do realizador alemão.
Uma obra-prima, um clássico, um filme que se vê como quem lê um grande romance da história da literatura, com múltiplas leituras, ligações, patamares, personagens bi-dimensionais, tridimensionais (como Avatar não tem), inteligência narrativa, teias complexas, portas fechadas e outras que nunca se fecham, mistério, suspense, densidade narrativa... Uma história que fica na História do cinema.
E se não parecesse ridículo, insistiria que, até agora, é o melhor filme do ano.
"Quase desejava
que fôssemos borboletas
para vivermos somente
três dias de Verão.
Tais dias encheria
com tamanhas delícias
como cinquenta anos normais
nunca abarcariam."
Jonh Keats
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