Eu não sou o meu nome. Eu sou o teu nome escrito do avesso. Eu sou o meu nome encostado à tua cabeça. O meu nome que foge de mim. O teu nome e o meu nome atados com cordas. O teu nome sou eu quando me debruço por cima do teu ombro. O meu nome a fazer uma pirueta. O meu nome a cair lentamente sobre a tua cama estreita de mulher. O teu nome dentro da minha boca. Sou eu a pedir-te que repitas o meu nome, sussurro a sussurro, letra a letra. Sou eu a dizer o teu nome que trago debaixo da língua. O teu nome no meu sexo estampado. O meu nome no teu sexo estrela. O meu nome é um sexo levantado. O meu nome é uma carícia que me fazes por cima da minha cicatriz. O meu nome é a cicatriz a meio do teu corpo. O meu nome plana por cima das planícies em busca do teu nome. O meu nome cai a pique junto ao teu nome. Nunca digas o meu nome. O meu nome não existe. Não vem em nenhuma página escrita. O meu nome é uma cifra escrita a verde ultramarino. Verde ultramarino é a cor de que mais gostam os nossos nomes. O meu nome sobre o teu nome. O teu nome sobre o meu nome. Os nomes muito perto. Os nomes muitos. Os nomes exaltados. O meu nome em cadência lenta. O meu nome é forte como um bicho selvagem. Os nossos nomes percorrem as paisagens como cavalos endoidecidos. Quem diz o meu nome diz amor, qualquer coisa aflita. Quem diz o teu nome deseja ser atingido por um raio, elevado aos céus. O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, indomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.
P.P.
"Nunca são as coisas mais simples que aparecem quando as esperamos. O que é mais simples, como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se encontra no curso previsível da vida. Porém, se nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos nos empurrou para fora do caminho habitual, então as coisas são outras. Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso: um desvio no olhar; ou a mão que se demora no teu ombro, forçando uma aproximação dos lábios. "
NUNO JÚDICE
5 Junho - 22h00
Rodrigo Leão vai apresentar o seu novo álbum, «A Mãe», num espectáculo especial no Casino Estoril com o Cinema Ensemble a ser dilatado com a presença da Sinfonieta de Lisboa, que também participa no novo trabalho. Dono de uma das mais interessantes discografias do nosso país, o músico e compositor Rodrigo Leão tem conhecido o sucesso dentro e fora de portas, facto que lhe tem permitido ter convidados de peso nos seus discos, como aconteceu com Ryuichi Sakamoto ou Beth Gibbons (Portishead).
O Cinema Ensemble passa agora para o palco momentos seleccionados da aplaudida carreira de Rodrigo Leão, onde se contam êxitos como «Voltar» ou «Solitude» que contribuíram para o arrebatamento de plateias em todo o mundo, e, claro, reportório mais recente como «Vida Tão Estranha» ou «One Day», marcantes na banda sonora da super-produção «Equador» e momentos altos da recente digressão. Nas melodias de Rodrigo adivinham-se tradições e modernismos, arranjos sofisticados e tendências pop, numa combinação que é, a um tempo, perfeitamente única e mágica. Esta história que continua em construção terá em breve nas lojas um novo capítulo: chama-se «A Mãe», título com que Rodrigo Leão homenageia as raízes e o mais puro dos amores.
Com material composto em locais tão distantes como Goa ou Nova Iorque, o novo álbum é descrito por Rodrigo Leão como «mais vincadamente melancólico». Ao vivo, com Celina da Piedade, Ana Vieira, Viviena Toupikova, Marco Pereira, Bruno Silva, Luís Aires e Luís San Payo, o encantamento prossegue.
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