Eu, que fui filho, sou agora pai.
Imagino todo o mistério que eles vêem quando olham para mim e carrego aquilo que eles não sabem, que é melhor que não saibam. E, muitas vezes, quando lhes conto alguma história minha, explico-lhes que aconteceu antes de terem nascido. Eles olham-me desde a sua idade e não estranham que existisse mundo antes de terem nascido. Já eu, que tenho esta idade, estranho quase tudo.
Sou eu que os junto, é essa a minha tarefa. O mais velho defende o mais pequeno. Perde de propósito em jogos de playstation. O mais pequeno tem uma cegueira imensa pelo mais velho. Nada do que ele faça pode estar errado. Eu sou a testemunha disto. Sou o pai. Respondo às perguntas que me fazem, dou autorização para irem lá ao fundo. O pai deixa, diz um deles.
Sou também eu que os separo. Depois de dois dias inteiros juntos, a dormirem na mesma cama, a acordarem ao mesmo tempo, sou eu que guardo a roupa suja na mochila do Benfica. Sou eu que carrego os presentes no carro. Depois de filmes no cinema em que eles decoram cada pormenor, depois do pequeno se divertir a lutar contra a minha sombra, depois de comermos crepes com chantilly, depois de eu reparar que o mais velho está quase da minha altura, chega a hora, fim da tarde de domingo, e peço-lhes para darem um abraço. Eu sou o pai a olhá-los, mas, por dentro, em segredo, sou também um menino de cinco ou doze anos que gostava de ser irmão deles.
José Luís Peixoto
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