Dias de verão.
Melancolicamente outonais.
Tão bom.
A ouvir Katie Melua com volume alto....
Leituras de pré férias......
«Penso muitas vezes na sugestão que Jesus faz aos discípulos, mais do que uma vez: ‘Passemos para a outra margem’ (Mc 4,35)
Há um sonho do qual não podemos desistir: o sonho de que a Igreja, em cada uma das suas comunidades, se pareça também com uma família alargada em gozo de férias, e não apenas a um laborioso centro de prestação de serviços, sobretudo se anónimo ou impessoal.
Nessas férias seria diferente! Saberíamos o nome uns dos outros e mais: daríamos tempo para saborear a história e a presença que cada um é. Não seria o relógio a presidir aos nossos encontros, nem a utilidade imediata a emprestar justificação às nossas procuras. Pelo contrário, estar em comunidade seria como caminhar junto ao mar, sem nenhuma pressão de horários (exteriores e interiores), entregues ao prazer da contemplação e da companhia. Ou como passear pela montanha, entusiasmados por visões alargadas onde a paisagem refulge numa transparência que quase havíamos esquecido.
Nessas férias seria diferente! Aboliríamos o rotineiro fast food religioso, que apenas serve para enganar a fome, deixando que a alma se alimente e revitalize como precisa: no silêncio e na palavra, no encontro e no dom, na escuta e na preço. Buscaríamos juntos, como peregrinos experimentados, a abundância ainda intacta das fontes que nos irrigam, sentindo-nos depois reconciliados e gratos pela fantástica vizinhança delas. E faríamos o mesmo com a beleza dos lírios, da qual Jesus falou, com o dourado apaziguador que podem ter os campos à nossa passagem ou com o canto dos pássaros cada vez mais alto.
Nessas férias seria diferente! A refeição constituiria o centro, mas como deliberado espaço de multiplicação para a vida: partilhando o pão que expande a graça, bebendo o vinho que amplia a festa.» (pág. 207)
Não venhas primavera
eu ainda não estou pronta...
falta limpar cardos, espinhos e mãos gretadas.
Está escuro ainda
e os dias são pequeninos como bréu.
Não venhas ainda.
Chove.
O tronco espera a seiva
bruta e viva
e as manhãs cheiram a mofo,
a titãs secas...
mortas.
Não venhas ainda
eu não estou pronta.
Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!
Florbela Espanca
A paixão incendeia madeiras secas e ramos verdes.
A alegria enfeita os frágeis laços do amor.
Os filhos dão sentido à caminhada......as viagens aventura, as experiências comuns memórias e cumplicidades.
Mas a dor solidifica!
A dor partilhada constrói nós.
O amor enrigesse,cresce,endurece, cola......
Há dias assim.
Apetece acordar d.e.v.a.r.i.n.h.o e agradecer.
Agradecer todas as benções maravilhosas que ainda tenho.
Porque cada dia é mais um recomeço, uma nova hipótese, uma nova vida.....
No lugar da árvore
No lugar da árvore.
No lugar do ouvido.
No lugar do chão.
Unidade crepitante
no silêncio aberto
no Trânsito.
Tronco, calma
bomba indeflagrável,
dádiva da identidade.
António Ramos Rosa
Game over ou...
...chegou a vez de passar o jogo.
Felicidade é um livro
que abre
que fecha.
Parado,
impenetrável
impercetível...
Mas quando abre,
na madrugada clara e gritante
desperta-nos os sentidos,
desabrocha-nos os poros e os sorrisos.
E por breves instantes
entontecemos devagarzinho
levitando do chão.
Verão metamorfótico
longo e curto,
sem rumo,
só estrada.
Lento calor
carinata fasciculata
sufocada
rastejada.
Seiva quente
estridulante cantar.
E Thanatos ...
suspenso....
entorpecido
...dorme...
no meio do caminho.
Hibernar no verão...
porque não?!
Junho disfarçado de outono.
Passeata pela minha terra.
Lugares tão colados que quase já nem damos por eles.
Tão passados. Pouco revistos.
Revisitar.
Com outro olhar.
Em 'To the Wonder', Terence Malick explora a forma como o amor (paixão, simpatia, obrigação, tristeza, indecisão)
e as suas fases e épocas,
podem transformar,
destruir
e reinventar vidas.
Fotografia muito boa!!
Sem guias para finais felizes.
Há filmes que diluem a densidade dos nossos desequilíbrios….
Pena que tenham SEMPRE a trivialidade dos finais previsíveis!
POEMA DE AMOR PARA USO TÓPICO
Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.
NUNO JÚDICE
A Vida
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
A vida...
que escapa por entre os dedos, pedaços que
ficam, metades que escapam, ventos que
sopram, mãos que soltam ,
mãos que deslaçam, mãos que desfazem,prendem
laços após,
nós,palavras avós, na voz,
nós,pós,vento e razão.
A vida que escapa, a capa, a ilusão.
adj. e s.m.
Que ou aquele que se opõe, que faz oposição; adversário.
ou
Concorrente.Indivíduo que concorre a um emprego.
Candidato.
ou
as duas coisas em simultâneo !!
Gosto de maio.
Faz lembrar dias mornos e fins de tarde serenos.
Maio cheira a morangos, cerejas, mães e flores.
Tráz aniversários e reencontros. Feiras e livros. Leveza e liberdade.
Gosto do som de maio. Amarelo e doce.
A minha consciência ecológica nasceu cedo.
Nasceu com a minha consciência humana.
Eu, o outro. Par. Em par. Impares.
O lince foi o meu primeiro protegido.
Cadernos, livros, quarto, colegas…todos eram carimbados com a minha máxima:
‘SALVEMOS O LINCE E A SERRA DA MALCATA!’
.... Ainda hoje penso que posso salvar o mundo,
o meu pequeno mundo.
E acho piada à minha ingenuidade.
Pizarro ontem no grande auditório...
O lirismo...a subjectividade...a emoção....o eu....
Na sua sétima edição, a realizar no próximo fim de semana, o festival Dias da Música ,no CCB, aborda 'O Impulso Romântico' nestas duas vertentes: a histórico-musical e a popular. De Beethoven a Rachmaninov, de Chopin a John Lennon, de Berlioz à chanson d’amour francesa, propõe-se um itinerário musical que nos mergulha nas raízes do Romantismo e detecta a persistência do sentimento romântico, erudito ou vulgar, até aos nossos dias.
20 de Abril- 18 horas Espaço B13
Frédéric Chopin Balada n.º 1
Felix Mendelssohn fantasia escocesa
Franz Liszt Sonata em Si menor
Huseyin Sermet piano
As instituições que temos, hoje, estupidificam, quase sempre, as massas. Principalmente daqueles que não questionam, que não dão sentido ao caminho, que aceitam ordenadamente as regras do jogo.
E a escola actual é perita nisso.
A escola nem sempre permanece.
Principalmente quando foi má ou tão disfarçadamente nula que apagou memórias e vivências. Falo com amigos que não lembram nada desses ‘‘mágicos’’ anos. Acho estranho. Eu que lembro caras, cheiros, cores, sons, sensações….É verdade que ‘A educação é aquilo que permanece depois de esquecermos tudo o que nos foi ensinado’…e muito lá deve ter ficado, de certeza…mas acho estranho na mesma essas ausências.
O principal , desse anos, não foi de certeza a quantidade de conteúdos que conseguimos absorver, mas a qualidade de sensações positivas que nos estruturaram e deram sentido àquilo que hoje somos.
Por isso irrita-me essas falsas morais de que a criança, nessa etapa, perde ‘escola’, quando vive experiências pontuais com os pais. Perde NADA!!
A escola de hoje, é apenas um lugar. O conhecimento está em todos os lugares onde há partilha, cumplicidade e amor de pais.
Mas, a frustração de mãe aparece quando menos se espera.
Inventem-se novos pais, novos filhos, principalmente novas escolas!
Assim já não dá!
O sistema, tal como está, já deu o que tinha a dar. Tornou-se obsoleto, esquizofrénico, uma armadilha serviçal do poder e dos políticos. Há que manter as mentes adormecidas, desumanizadas e inconscientes.
Certo é que, grande número de professores, pais e alunos, não se sentem minimamente, realizados nestas suas ‘missões’. Esta insatisfação vem, acima de tudo, deste sistema que domestica, formata, seleciona e não deixa ser.
Bem, na verdade posso estar a exagerar....Mas esta semana tive em duas reuniões de pais. Numa delas os professores queixavam-se da falta de motivação dos alunos, da sua alienação e do vazio dos seus projetos. Em paralelo com uma enorme irresponsabilidade, desumanidade e falta de valores.
Dia rosa !?
Nem por isso.
Mas a PinK perseguiu-me todo o dia com Try, try,try.....
Será um sinal?!
Não sei.
Só sei que , finalmente ,amanhã não vai chover.
E...o que é que uma coisa tem haver com outra??- perguntam vocês- se houvesse vocês desse lado.
Nada. Não tem nada haver.
Mas hoje passei o dia a ouvir disparates.
Só com PinK volto ao lugar.
Vou continuar a procurar o meu mundo,
o meu lugar
Porque até aqui eu só...
Estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou...
António Variações
Permaneci nesse corpo
Dissonante vertigem
Altiva e branca.
Não bebi em teu cálice
Corpo em alerta
Breve paragem.
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
__ Respire fundo!
Já era....
Agora dizem:
__ Respirar!??...Tente não pensar nisso!
Ok!!!
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A Alfazema
Será do vento,
ou as pessoas,
hoje,
andaram muito reactivas?!
Esqueceram de tomar o comprimidinho, foi ?!
Precisa-se de bom humor, cortesia, elogios, delicadeza, em suma, sensatez!
O sensato reage de maneira prática.
Dá valor ao emocional e despreza o mesquinho.
O sensato é, muitas vezes, considerado de inconstante, desorganizado e pouco responsável.
Mas não!
O sensato privilegia o conteúdo, não a aparência.
Por isso, é politicamente incorrecto e impróprio para cargos técnicos e administrativos, tão entontecidos pela estupidez.
Os sensatos enlouquecem no meio de tanta pequenez, e seguem sós, seus trilhos de incompreensão e escárnio.
Estão em extinção.
Não peço que os protejam, feito animal sem habitat, mas que, por favor, respeitem as suas diferenças!
Começaram hoje as Correntes d'Escritas, lá na Póvoa de Varzim.
Gostei de ouvir a comunicação de Maria Teresa Horta com «De que armas disporemos se não destas que estão dentro do corpo» (de um poema de Hélia Correia).
Lembrei-me logo da ' Arma secreta' do António Gedeão ( Rómulo de Carvalho) e da infantil encenação que eu fazia à volta da sua declamação, nos íntimos jantares de família.
E com a mesma infantilidade , pois a minha escrita continua muito naif e pouco literária , comecei a brincar com palavras.
De que armas disponho?
Voz que voa,
sangue e brisa,
fogo ardente,
gelo quente.
Tudo ou nada.
Sol ausente.
E um não sei quê emergente
que me prende
paralisa.
De que armas disponho?
Quase nada.
Tanto tudo.
E o terrível abismo
Bivalente….inocente
de estar longe
indiferente
mas ter vontade de mais,
mais e tudo
docemente.
Avidamente partir….
voltar só e descontente.
De que arma disponho?
Foi secreta.
Foi semente.
Hoje rara , raramente
é vertigem divergente.
Cresceu. Amadureceu.
Mas continua imprudente.
É a eterna utopia de rasgar o aparente.
De que armas disponho?
Só do amor.
Simplesmente.
Gosto da noite!
Somos outros à noite.
Gosto de sair, sob o céu escuro, e soltar amarras debaixo das estrelas.
Mas , cada vez mais, preciso da noite para me reequilibrar. Fazer balanço e ficar quieta...por fora.
Ouvir música que me embale.
Mergulhar no silêncio...
Dormir........Dormir é bom!
Retornar todas as noites à posição fetal e aguardar pelo renascer de cada manhã...como de uma nova vida se tratasse.
« Ama!
Dentro do templo,ajoelha-te.
No estádio de futebol,grita pela tua equipa.
Numa festa , comemora.
Durante um beijo, apaixona-te.
De frente para o mar, despe-te.
Reencontras o amigo, escuta-o.
Ou então , muda tudo.
Se preferires:
Dentro do templo, escuta-O.
Durante um beijo,despe-te.
No estádio de futebol, apaixona-te.
De frente para o mar, ajoelha-te.
Numa festa,grita pela tua equipa.
Reencontras um amigo, comemora.
Mas AMA !!!!!»
M.M
Objetivo do mês: destralhar!
Há mais de dois anos que tento destralhar.
Hoje destralhei imenso e sinto-me muito mais leve!
Missão difícil e até dolorosa.
Não sou uma acumuladora compulsiva do TLC, mas tenho certa tendência para guardar coisas.
Atribuo mil significados: futura reutilização, futura aplicação, futuro uso, recordação passada, afecto passado, memória passada….
Estratagemas do ego!
Com esta história do passado e do futuro acabo por esquecer o presente,…o único que existe mesmo!
Há mais de um ano que roupas não são usadas, que tralhas não são úteis, que monos ocupam espaços preciosos de vazio.
E, se não lhes aconteceu nada durante anos, também não lhes vai acontecer nada futuramente.
Mas, à última hora, surge sempre aquela vozinha interna e enferma: « E se vieres a precisar…?», « E se for útil para alguma coisa….?»... «…e se….e se….».
Tretas!
Tenho de livrar-me de coisas e viver o HOJE.
Tenho de reeducar este apego emocional! Memórias ficarão sempre cá dentro. Onde devem estar!
Há que desocupar espaços e dar lugar à simplicidade.
E isso aplica-se também à tralha mental, a planos, projectos, ideias e pensamentos.
Há que limpar, simplificar, destralhar, minimizar, relativizar.
Tarefa difícil. Muito difícil e sinuosa.
Relativizar compromissos, estabelecer prioridades, trocar mapas por bússolas.
Ser consciente. Fazer escolhas ecológicas, controlar o tempo, desmaterializar, sentir leveza.
Em casa acham-me estranha e pensam que bebi litros de Red Bull. A empreitada é lenta e cheia de pequenos grandes passos.
Gradualmente, as camadas que me camuflam também vão tombando e vou -me redescobrindo e dando espaço a pormenores que realmente me apaixonam.
Haverá espaço, por fim, para dedicar-me ao essencial…e viver coisas novas, simplesmente.
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. AMA